Reaprendendo a contemplar…

Publicado em 21 de julho de 2015.

Contemplacao_roundedCom a massificação cada vez maior de várias linhagens e técnicas de Yoga, muitos de nós agora nos sentimos obrigados a aprender a meditar. Alunos falam sobre isso, pacientes procuram técnicas milagrosas e mesmo quem nunca praticou já ouviu falar algo a respeito. A meditação parece realmente ter alcançado um nobre status, até mesmo em trabalhos científicos, sendo de grande valia para muitos adoecimentos modernos: stress, dores de cabeça, insônia, letargia e depressão. Cursos não faltam, e são tantas as técnicas e opções, que corremos o risco de nos perdermos antes mesmos de iniciarmos.

Mas no fundo me parece que a grande solução para muitos dos problemas modernos não esteja diretamente na meditação. A meditação é fundamental sim, e ela acontece quanto temos espaço e condições para isso. Mas muito antes da meditação, precisamos simplesmente desacelerar, reaprender a olhar em volta, a parar por alguns instantes, para quem sabe contemplar  como a vida que se desenvolve à frente do nosso nariz.

Aqui em São Paulo, o tempo urge, trocamos o “ser” pelo “fazer”, somos medidos pela métrica da produtividade, das metas e das campanhas de resultado, do quanto ganhamos de bônus ao final do ano e de quanto realizamos em nossos trabalhos. Mas recentemente, depois de uma curta temporada na Bahia, me lembrei que fora daqui as coisas não são sempre assim. Ainda dá para parar e respirar. Parar e olhar. Parar e simplesmente estar…

Mas já de saída, na volta dentro da sala de embarque, bem antes da atendente chamar, já havia uma fila imensa, que deveria ter mais de 100 pessoas. Todas esperando para embarcar o quanto antes, mesmo sabendo que seus lugares são marcados e que portanto, não faria diferença alguma entrar um pouco antes ou depois no avião. É disso que estou falando, urgências desnecessárias em processos corriqueiros. Antecipações do futuro extremamente ansiogênicas e energeticamente pouco econômicas. E então, buscamos  técnicas que nos reconectem com o presente.

E assim, num longo processo de (des)aprendizado, nos esquecemos que precisamos de tempo e de espaço para ser em vez de fazer. E com “ser” quero dizer arrumar tempo para simplesmente estar com quem amamos, de verdade, não via “Atizapp” ou “Fakebook”. “Ser”, quer dizer nos sentarmos numa praia, numa praça, num café ou num banco,  e apenas observarmos a magia e o mistério que há na natureza, nas plantas e nos animais e numa conversa franca. “Ser” significa não precisar cumprir uma agenda, nem roteiro de museus, parques, lojas ou locais diferentes a serem visitados, mas simplesmente tomar tempo para observar a nós e aos outros ao redor. Todos nós já tivemos ao menos um lapso dessas experiências de Ser em vez de Fazer. Pena que para alguns de nós, isso é apenas uma lembrança distante.

Parece que em algum lugar da nossa própria educação, pegamos um desvio que nos fez esquecer de quais eram as atitudes capazes de acalmar o coração e de nos trazer de volta para a nossa essência. Para isso, um conceito budista, emprestado ou talvez dividido com as antigas escrituras de Yoga vem a calhar: a contemplação. Comumente todo o nosso esforço está em alcançar, em conseguir, em planejar e realizar. Mas as antigas escrituras nos relembram a importância de apenas sermos capazes de observar…

Observar uma paisagem, observar um som, ou apenas o momento presente. A notícia triste é que isto é cada vez mais difícil nas grandes cidades onde tudo é feito para ser útil,  prático e rápido. Mas que bom que a vida na natureza não sempre respeita nossas ideias pré-concebidas e um tanto distorcidas da realidade e felizmente nos mostra que parar e contemplar pode ser uma saída imediata e sem tanto esforço para muitas das neuroses que sofremos. Neuroses que, sem perceber, nós mesmos criamos e agora tentamos, a muito custo, inventar uma nova forma de esquecer.

 


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