Desfaça seus nós mentais

Publicado em 15 de setembro de 2015.

arame_farpado
Quando queremos desenvolver uma nova habilidade ou projeto, um hobby, ou uma competência profissional nos deparamos com vários obstáculos. Mas talvez as maiores dificuldades não sejam externas e venham sim de nossa incrível habilidade mental de colocar em dúvida as próprias capacidades. Neste momento, seja o projeto qual for, fatalmente a mente será levada a três tipos de movimentos:

 

1) lembrar o passado: Buscamos uma justificativa no passado. O que deu certo e o que falhou. Experiências que comprovem ou que refutem o que queremos construir no presente. E se deu errado, uma vez que seja, pronto. Concluímos que jamais poderá dar certo agora…

2) projetar o futuro: em geral, projetamos cenários ou muito mais bacanas ou bem mais sinistros do que a realidade será. Com base nisso, buscamos tomar decisões sobre o agora. E se conseguirmos o que ocorrerá ? Mas e se não conseguirmos o que faremos? Nada pode tornar as decisões mais difíceis, uma vez que não temos o menor controle ou previsibilidade sobre o que o futuro trará.

3) se comparar aos outros: vivemos constantemente em função dos outros. Ganhamos mais ou menos, somos mais gordos ou mais magros, mais bonitos ou mais feios, temos mais ou menos sucesso…Pessoas na nossa idade fariam isso ou não fariam aquilo que queremos. Então damos um veredito se o que faremos é adequado ou não.

Desses três ladrões de energia e da nossa atenção nascem duas possibilidades: ou somos melhores do que os outros e portanto podemos fazer o que nos propusemos, fortalecendo nosso ego ou somos piores, nos sentimos inferiores e, consequentemente, incapazes. E se nos acharmos piores, então estamos a caminho de sentimentos de baixa auto-estima, medo, e inadequação.

A saída para fugir desses três ladrões é focar a nossa atenção para as possibilidades no presente. Isso não significa deixar de projetar ou se preparar para a realização de novos projetos mas sim deixar de viver em função dos outros e do atingimento de um determinado patamar ou status projetado. O que ocorre é que muitas vezes em nossa ânsia por não errar, nos tornamos incapazes de lidar com o que está ocorrendo no momento presente e acabamos por nos perder em inúmeras possibilidades. Nos tornamos teóricos brilhantes, mas muito pouco práticos.  No mundo real, a maior parte das dificuldades que projetamos sequer sabemos se chegarão a existir.

Esta aliás, é uma das maiores causas de desequilíbrios – o excesso de preocupação mental, gerando ansiedade, medo e frustração. Simplesmente apagamos o que está acontecendo “agora” e esquecemos que podemos nos alegrar com o que somos e com o que temos, e que aos poucos criaremos nossa própria forma de lidar com as adversidades futuras. Precisamos fazer do caminho e dos projetos futuros trilhas de descoberta e não apenas de esforço e incerteza. Quando de fato somos capazes de olhar amorosamente o momento presente, nos sentimos confortáveis com o que temos e com o que somos. Ao contrário, quando olhamos para fora e para frente, imediatamente nos comparamos com os outros, com a possibilidade de fracasso e facilmente desistimos. A chave para a felicidade não é buscar apenas satisfazer os desejos, mas aprender a buscá-los sem precisar alcança-los para nos sentirmos realizados.  Daí, o fazer ganha mais importância do que o ser. O caminho se torna leve e divertido.

Precisamos mais do que nunca treinar nossas mentes da mesma forma que se adestra um cachorro. Caso contrário, e é o que mais acontece, o cachorro continuará a nos levar para passear.


Comentários

Renata Araujo

Em 19 de junho de 2015 às 00:36

Ilan,

Que reflexão brilhante! Olha, vou dizer: acho que você não tem ideia de quão preciosas são as coisas que aprendo contigo no meu dia-a-dia, nesse “rodo” que é o nosso cotidiano à paulistana. Muito obrigada por mais uma contribuição realmente inteligente, útil e inspiradora — coisa rara de se ler.
Beijos,
Rê.


Faça um comentário (seu e-mail não será publicado)