O que a carne, a cerveja e a coca-cola têm em comum no Brasil?

Publicado em 21 de março de 2017.

Recentemente o Brasil foi mais uma vez objeto de atenção internacional ao ter a qualidade da carne questionada por conta de diversas irregularidades apontadas em alguns frigoríficos. Entre estas irregularidades estava a reembalagem de carnes com prazos vencidos, a utilização de produtos químicos para mascarar o cheiro e a cor da carne vencida e a mistura de carnes proibidas em produtos como linguiças e salsichas.

Na verdade, mais do que a contaminação ou prejuízos a saúde, está novamente em jogo algo que fala absolutamente sobre o caráter das empresas brasileiras e sua ganância extrema: O nosso famoso “jeitinho”. Não há palavra que defina melhor o momento atual e que seja mais degradante do que esta. E o nosso “jeitinho” não está presente apenas na carne, basta abrir uma latinha de cerveja de um dos grandes fabricantes:  Brahma, Antartica, Skol, etc. Ao olhar para os ingredientes dessas cervejas, encontraremos o suspeito “cereais não maltados”ou “não malteados”. Se você ainda não sabe o que vem a ser isso, eu traduzo:  milho transgênico. A justificativa destas  cervejarias é que se utiliza milho para tornar a cerveja menos amarga, para que ela se “adapte ao paladar brasileiro”.

Como gostamos de pagar pouco e também acreditamos em Papai Noel, seguimos comprando a rodo essas marcas. Agora se pesquisarmos um pouco mais a fundo, descobriremos que há um regulamento internacional (não aplicado pelas autoridades brasileiras)  que define quais componentes e em quais proporções deveriam estar presentes para que a bebida pudesse ser chamada de cerveja. E com certeza milho transgênico não faz parte dessa lista. Lúpulo sim. Mas lúpulo é muito mais caro do que milho transgênico…Assim como produzir carne de qualidade, assim como tantos ingredientes que deveriam fazer parte de tantos produtos que consumimos mas são substituídos por produtos químicos ou por produtos parecidos, porém de qualidade duvidosa e claro, bem mais baratos.

Onde quero chegar? Que as indústrias continuam nos fazendo de bobos. Enchendo linguiças com carne de cabeça, produzindo “cerveja” com milho ou enchendo as latinhas de refrigerante com doses cavalares de açúcar e corante de forma a viciar um pouco mais os consumidores. Sim caro leitor, porque o sal e o açúcar são viciantes. Claro que a justificativa dos empresários é apresentada como forma de tornar seus produtos “competitivos”. Agora se o Brasil é leniente para legislar ou mesmo para fazer cumprir suas leis, que bom que o mercado internacional não trata as coisas da mesma forma…

No mínimo, agora nosso país terá que se esforçar em mostrar para as autoridades europeias, da China e Coreia e Chile (até o momento) que o produto vendido aqui não é tão ruim assim…Que nossa qualidade não é um lixo, como pareceu. Isso se ainda não tivermos que abaixar os preços para voltar a fornecer normalmente aos países para os quais exportamos atualmente. Ou seja, o empresário-espertão agora corre o risco de ficar sem ter para quem vender. Curioso que as atenções das nossas autoridades estejam focadas na exportação e não no mercado interno, mas isso também não é novidade por aqui. Se essas condutas empresariais irresponsáveis e egoístas, que foram desmascaradas por um fiscal (que foi afastado), fossem aplicadas a uma pessoa poderíamos ter um diagnóstico: psicopatia. Mas por aqui, na terrinha, o empresário que engana, que compra fiscais, que vende o embuste é o esperto, é o orgulho da família e na roda de amigos. Por aqui é uma virtude ser um vigarista.

Mas vamos mudar da carne para outro tema que me interessa muito, afinal 33% de nossas crianças estão obesas: o refrigerante. A própria Coca-Cola, gigante mundial de refrigerantes, fabrica seus produtos de forma muito diferente no Brasil e no exterior. Lá fora, cada latinha possui muito menos corante caramelo e outros aditivos químicos do que aqui. Sim, esse mesmo corante caramelo IV foi considerado como potencialmente cancerígeno. Mas quem se importa, não é mesmo? “Ah…está tudo contaminado mesmo, não faz diferença”, palavras sábias que circulam entre o povo quando ouvem uma notícia dessas. Palmas para nossas respostas típicas, que denota também nossa ignorância sem tamanho.

Aqui no Brasil, as empresas e os governos andam de mãos dadas. Esta relação um tanto perversa faz com que se vise o lucro acima de tudo. Assim tem sido durante décadas, não talvez sejam séculos. Talvez essa seja de verdade a herança maldita que aprendemos com a nossa colonização: O desejo de explorar o outro, sem nenhuma dor na consciência. Ou seja, se eu-empresa ganho, o governo ganha e vice-versa. Dane-se o consumidor. “Enquanto ninguém descobrir o que há por trás, vamos comemorar…”. Que mal fizemos para merecer conduta mais patológica do que esta?

Por isso, olho vivo nos ingredientes das embalagens, nas empresas que são citadas e acusadas de estarem fazendo peripécias com a carne ou com quaisquer outros produtos. Vale também para as cervejas de milho,  sucos de fruta que na verdade são apenas água e açúcar, etc…Você consumidor tem um poder fantástico. O poder de barrar essas empresas simplesmente parando de comprar seus produtos. Essa é nossa maior arma e nossa maior força num País e num Mundo onde os números do balanço estão acima de tudo.

Garanto a vocês que em geral, as grandes empresas estão se lixando para sua saúde, seus níveis de colesterol ou glicose ou até se você está consumindo alguma substância cancerígena. O que todas as indústrias querem é vender, vender e vender mais. E o governo…ora…o governo fecha os olhos.

Não fosse isso, não teríamos tidos os piores índices em relação à qualidade de nossa educação (Brasil ficou entre os 8 piores países do Mundo no PISA 2015) .  Uma coisa está diretamente ligada à outra. Mas isso já é um papo para outro dia… Durma-se com todo esse papelão.

Ilan Fernando Segre
Psicólogo USP (CRP 06/112563)
Pós-grad. Fitoterapia – Fac. Mario Schenberg.
Autor do livro TERAPIA INTEGRATIVA
CONSULTÓRIO f: (11) 96350-7228

 

 


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