O diagnóstico segundo yoga e ayurveda
Publicado em 14 de agosto de 2014.
Há alguns milhares de anos, não existiam os modernos equipamentos de imagem ou os detalhados exames de sangue aos quais podemos nos submeter atualmente. Ainda assim, existiam as doenças. E as pessoas eram diagnosticadas e tratadas segundo conceitos básicos de avaliação: observação, auscultação, palpação, descrição de sintomas e experiência do médico ou terapeuta.
A medicina ayurvédica possui diversos tratados quando se trata de cuidar dos problemas do corpo e procurar restabelecer a saúde física do corpo. Mas quando se tratavam de desequilíbrios mentais, recorria-se à sua ciência irmã, yoga, para realinhar os pensamentos e estados de espírito alterados.
O artigo abaixo foi escrito a partir dos 12 passos escritos pelo Dr. Swami Gitananda Maharaj. Foi com o filho dele, o clínico Dr. Ananda Bhavanani que tive o privilégio de estudar durante o estágio que fiz no Jipmer Hospital, em Pondicherry. Seu pai, no artigo original em inglês, elenca 12 formas de diagnóstico e abordagem de desequilíbrios abordar, baseadas nessas antigas disciplinas e especialmente, em Yoga:
1) Trigunas: São os três componentes básicos da matéria: Rajas, Satwa e Tamas. Rajas = Agitação e movimento, Tamas = rigidez ou imobilidade e Satwa = verdade e equilíbrio. Essas características podem ser facilmente observadas quando olhamos qualquer elemento na natureza ou mesmo alguma pessoa, por exemplo. Como a pessoa se movimenta? Como fala e expõe seus problemas? É calma, ponderada? Sua argumentação é lenta e equilibrada ou desgovernada e sem sentido? A forma como a energia da pessoa se manifesta deve orientar o terapeuta a sugerir determinado tipo de atividade, de alimentação e de hábitos a serem adotados.
2) Tridoshas: Os Doshas são resultado da combinação dos 5 elementos naturais e suas consequentes propriedades em cada organismo humano. Assim, as pessoas tenderão a possuir uma forma física característica e uma forma mental condizente com seus elementos em maior proporção. Daí a diversidade grande de caráter que possuímos, desde personalidades mais ágeis, rápidas e diretas, até outras mais lentas, amorosas, apegadas ou ainda avoadas, dispersivas, porém criativas, mas com dificuldade de concentração. Isso apenas para citar alguns exemplos.
3) Tri-Vasanas: Vasanas, pode ser traduzido como o conhecimento residual, ou a memória de um sabor, um cheiro, um desejo. Os Vasanas são divididos em 3: Lokha, posição que alcançamos ou desejamos na vida, Jnana, aprendizado e cultura que reunimos e Deha, apego e relação que temos com o próprio corpo. Como cada pessoa se relaciona com esses três aspectos em sua vida irá ajudar muito a orientar o terapeuta a direcionar o paciente em busca de tratamentos condizentes com a sua visão de mundo e que façam sentido para ele.
4) Pranas – energias circulantes no corpo. Yoga entende que a energia se manifesta e circula no corpo de 5 formas diferentes, ou em 5 subdivisões. São elas:
1) Prana – ingestão / assimilação;
2) Udana – deglutição / absorção;
3) Samana – digestão / metabolização;
4) Vyana – circulação / distribuição;
5) Apana – eliminação / expulsão.
Identificar onde se encontram os bloqueios é uma das chaves centrais de diagnóstico. Feito isso, podem ser empregados meios físicos, dieta, postura e/ou ervas para se recuperar a correta assimilação e circulação de energia no corpo.
5) Abhyasa ou Sadhana aqui pode ser trduzida como a capacidade de alguém para seguir instruções e aderir a determinado tratamento. Muitas vezes as pessoas buscam alternativas apenas por curiosidade, mas não tem a capacidade de aderir e seguir a orientação recebida. Isso leva os esforços do terapeuta e do paciente à ruína, uma vez que sem seguir a rotina necessária, o tratamento jamais irá alcançar os resultados esperados. Além disso, sabotar o tratamento iria conduzir a uma difamação da técnica, mesmo sem que esta tenha sido a causa verdadeira do fracasso.
6) Jiva-Karma – Estilo de vida. As antigas ciências ensinavam aos pacientes as formas corretas de viver, o que podemos traduzir atualmente como levar um estilo de vida adequado ao seu tipo. Nisso, a disciplina e regras claras de conduta devem ser observadas. Não é possível melhorar a qualidade de vida, sem aderir a hábitos específicos que incluem horários de sono, alimentação, rotinas diárias de exercícios e outros cuidados. Em tempos ancestrais, não acreditava-se que nenhum remédio mágico que fosse capaz de tirar milagrosamente dores ou sintomas independente de condutas do paciente. O paciente, é sempre parte integrante e responsável pelo processo de cura.
7) Chetana ou Manasa. Qualidade dos pensamentos e da mente (manas). Como é a pessoa que busca tratamento: idealista, positivo e extrovertido? Ou ao contrário, é negativo, pessimista e reservado? Tudo isso faz diferença na forma como o paciente irá lidar com a doença e em suas próprias perspectivas de alivio dos sintomas com os tratamentos recebidos. Procurar conhecer a forma como o paciente entende o mundo é importante para a escolha do correto curso do tratamento.
8) Vach ou fala. A forma como o paciente se apresenta e se relaciona com a sua doença também dizem muito a respeito de sua relação com o sofrimento e com o seu entendimento da doença. Abandonar a nossa perspectiva como terapeutas e entrarmos no mundo dos pacientes é uma ferramenta muito útil para aprendermos a ver o mundo com os olhos deles e então sermos capazes de caminhar ao lado deles, corrigindo eventuais erros de percepção.
9) Ahara. Dieta. “Digame- o que comes e te direi quem és”. Nos dias atuais, no mundo industrializado e químico da alimentação industrializada, talvez os conceitos antigos de comida viva tenham se perdido. Exatamente por isso é fundamental ao terapeuta entender claramente como é a alimentação de seus pacientes em detalhes, para que então possa traçar um plano de reeducação alimentar, baseado na avaliação física e mental de seus pacientes.
10) Adição ou maus hábitos. Todos carregamos nossos vícios ou maus hábitos. Um paciente honesto que se abre com seu terapeuta a respeito deles ajuda o seu médico / terapeuta a ajudá-lo. Mais do que isso, reconhecer que temos um vício nos ajuda a controlá-lo e a buscar formas de substituí-lo por condutas saudáveis. O mundo já está cheio de imposição de desejos e necessidades que não são necessariamente bons para nós. Se pudermos identificar e cortar parte daquilo que não nos faz bem, já estamos dando um grande passo rumo a saúde.
11) Jiva Vrittis. Sinais vitais. Apesar das antigas ciências não terem os recursos de imagem ou de exames que temos hoje, ênfase era dada à avaliação dos sinais vitais como batimentos cardíacos, respiratórios e de pressão sanguínea. Naquela época isso era medido através da inspeção do pulso (Nadi Pariksha). Conhecer a vitalidade e a capacidade dos pacientes é fundamental para a escolha do tratamento.
12) Sankalpa ou ideais. Qual é o projeto de vida do paciente? O que ele espera alcançar? Adquirir um propósito na vida talvez seja o motor mais importante rumo à realização e porque não à própria cura. Quando temos sonhos e desejos a serem realizados, temos maior capacidade de tolerar as incertezas e as dificuldades no meio do caminho. Criar nossos próprios propósitos e desafios é parte integrante do processo terapêutico e de melhor qualidade de vida dos pacientes.
Esse artigo foi inspirado a partir dos 12 passos elencados por Dr. Swami Gitananda Giri Maharaj e pode ser acessado em seu original clicando aqui.
Bons hábitos e boa semana!
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